quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Uma visão da adolescência.

Quando definimos a adolescência, estamos definindo significações, interpretando a realidade a partir de realidades sociais e de marcas que serão referências para a constituição dos sujeitos (OZELLA In JEFERRY, 2002). O conceito de adolescência, como fenômeno social e fisiológico, tem suas raízes na antigüidade (CHIPKWITCH, 1995). Platão em seus diálogos mencionava os jovens apaixonados e emotivos. Aristóteles, seu aluno, discutia sobre o desenvolvimento humano, no qual os estágios progressivamente mais altos da alma culminavam aos 14 - 21 anos de idade. Durante a idade média, crianças e adolescentes eram visto como adultos em miniatura, sendo descartados no que se refere às pesquisas de cunho científico. Nos séculos XVIII e XIX, época de urbanização, industrialização e comunicação de massas, Rousseau e Darwin foram os pensadores dominantes. No século XX, Hall e, mais tarde Freud, Erikson, Gessell e Piaget deram grande impulso aos conceitos de adolescência vigentes na atualidade. Fatos importantes dos séculos passados influenciaram na construção da identidade dos jovens (CHIPKWITCH, 1995). A Revolução Industrial foi pioneira neste sentido, imprimindo as primeiras mudanças à sociedade nos séculos XVIII e XIX. A industrialização levou à progressiva urbanização da sociedade, ao surgimento da burguesia e da família nuclear, do ensino obrigatório, dos meios de comunicação de massa e dos progressos científicos e tecnológicos. A melhoria do nível de vida se refletiu no padrão demográfico das populações, diminuindo as taxas de natalidade e mortalidade infantil, aumentando a expectativa de vida. Estes aspectos contribuíram para uma maior valorização da infância durante a Revolução Industrial. A mudança de família extensa e predominantemente rural para a família nuclear criou novas divisões entre os papéis sexuais e entre diferentes grupos etários e maior intimidade entre pais e filhos. Os adolescentes passaram a ser mais percebidos e valorizados. Porém, foi, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial que a formação da cultura jovem ganhou um pronunciado relevo social, cultural e político. A população adolescente aumentou significativamente em muitos países, tanto em números absolutos como em proporção da população geral, em virtude da queda de mortalidade infantil e aumento da fecundidade que produziu uma explosão demográfica - a chamada geração “baby boom”. A escolarização e a segregação etária engendraram o fenômeno mais proeminente que marcou a evolução da adolescência no século XX - o nascimento da cultura jovem. A convivência prolongada em grupos de pares dentro da escola e em situações sociais paralelas (clubes, festas, atividades esportivas) propiciaram o desenvolvimento da “subcultura” adolescente, caracterizada por roupas, linguagem, modismos, atitudes e comportamentos específicos, que a distinguem do mundo adulto. A oposição ao mundo adulto se tornou um dos objetivos básicos da cultura jovem. Atualmente, a concepção adolescente constitui-se uma séria preocupação política e social. Comportamentos de risco como o uso e abuso de drogas, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, HIV e suas conseqüências médico-sociais têm alta prevalência entre adolescentes, e o mito da adolescência como um período saudável já não pode mais ser sustentado. Viviane Luzia Prestes Anchieta, Psicóloga. Endereço eletrônico: vivianeanchieta@yahoo.com.br

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A triste história de crianças lobo ou nem só de genes e cérebro vive o homem.

O desenho animado "Mogli, o Menino Lobo", de Walt Disney, é bastante conhecido. Inspirado no "Livro da Jângal", de Rudyard Kipling, o desenho conta a história de uma criança que, ainda bebê, perde-se de sua família e é adotada e criada por lobos, no coração da selva da Índia. Na história original, Mogli cresce interagindo e conversando com os bichos e, quase adolescente, reintegra-se facilmente ao seu grupo humano antes de ser expulso como "bruxo", devido ao seu poder sobre os bichos. Kipling (1865-1936), que nasceu na Índia, inspirou-se em histórias contadas nesse país sobre crianças que se perdiam na selva e acabavam vivendo com os bichos. E, de fato, existem registros claros, especialmente na Índia e na Europa, de alguns casos de crianças "selvagens". Elas se perderam muito jovens de suas famílias, que viviam à beira de florestas, e cresceram sem contato com os humanos, antes de serem encontradas e trazidas para a "civilização". Infelizmente, em todos os casos conhecidos, as coisas se passaram de forma muito diferente do que na criação genial e romântica de Kipling: Uma das histórias mais bem documentadas envolvendo "crianças lobo" é a de duas meninas completamente selvagens, resgatadas por uma expedição que massacrou os lobos com quem elas viviam, perto de um vilarejo no norte da Índia, em 1920. O comportamento das duas crianças causou espanto, pois "quando foram encontradas, as meninas não sabiam andar sobre os pés, mas se moviam rapidamente de quatro. É claro que não falavam, e seus rostos eram inexpressivos. Queriam apenas comer carne crua, tinham hábitos noturnos, repeliam o contato dos seres humanos e preferiam a companhia de cachorros e lobos". Amala, a menina mais nova, parecia ter um ano e meio e morreu pouco menos de um ano depois. Kamala, a outra irmã, tinha mais de oito anos quando foi encontrada e sobreviveu por nove anos, morrendo em novembro de 1929. A evolução de Kamala, registrada pelo casal de missionários que cuidava dela em um orfanato, foi significativa, porém limitada. Ela conseguiu aprender a caminhar só com as pernas e mudar seus hábitos alimentares, aprendeu muitas palavras e sabia usá-las, embora nunca tenha chegado a falar com fluência. Apesar dos progressos de Kamala, "a família do missionário anglicano que cuidou dela, bem como outras pessoas que a conheceram intimamente, nunca sentiu que fosse verdadeiramente humana". O processo de educação ao qual Kamala foi submetida pode ser extremamente criticado, do ponto de vista do que sabemos hoje, pois houve uma grande ênfase na imposição de hábitos "civilizados" e, apesar do carinho dos que cuidaram dela, nenhuma preocupação com os aspectos traumáticos que toda a experiência certamente tinha para ela. Assim, ficamos sem saber até que ponto Kamala poderia ter evoluído, se tivesse passado por um processo mais terapêutico e menos didático de reintegração ao mundo. O mesmo pode ser dito em relação a outras crianças selvagens que ficaram famosas, como Victor de Aveyron, encontrado em 1798 na França e que o francês Jean Itard tentou educar de forma muito interessante, porém extremamente diretiva. Como não temos mais notícias de crianças selvagens desde a década de 20, não podemos fazer novas experiências de reeducação, e temos que nos consolar com os poucos dados que a história nos oferece. Resta-nos a constatação de que, depois de anos de esforços pedagógicos intensos, algumas delas chegaram a humanizar-se um pouco, mas, desprovidas por anos da riqueza das interações que levam as crianças ao domínio da linguagem e dos símbolos, jamais chegaram sequer perto de poder ser comparadas com crianças normalmente socializadas. Para Lucien Malson, que escreveu em 1963 um belíssimo livro sobre as crianças selvagens, a conclusão é clara: "Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas". A triste e comovente história das crianças selvagens, que sobreviveram quase milagrosamente entre os bichos e penaram para alcançar apenas as mais básicas marcas de uma existência "civilizada", deixa uma lição que não pode ser ignorada: sem o denso tecido de interações sociais do qual participa toda criança, simplesmente não há humanidade. Um bebê sem outros humanos é algo tão impensável como peixes sem água, como uma planta sem terra nem sol. A psicologia, ciência dos indivíduos, só pode existir se reconhecer o paradoxo em sua base: sem os outros, não há indivíduo. Teorias que esquecem ou ignoram essa ideia básica deveriam ser relegadas às selvas do esquecimento...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Devoração Da Esperança No Próximo.

Filosofia – 7º ano. O episódio ocorreu num dos grandes hospitais psiquiátricos do Rio. Uma cliente, pessoa simples, com baixo nível de escolarização e tida como louca, falava de sua vida em família. Dizia que um irmão tinha sido preso por tráfico de drogas e outro, morto pela polícia. Um dos terapeutas perguntou-lhe por que seu irmão havia sido morto. Ela respondeu: "Porque eles (os policiais) não gostam de gente"! De vez em quando é preciso dar ouvidos à desrazão. A onda de violência que vivemos hoje deve-se a incontáveis motivos. Um deles parece-me especialmente virulento: o desinvestimento cultural na idéia do "próximo". Muitos historiadores, filósofos e cientistas políticos referem-se ao "nascimento do próximo" como um evento particular ao Ocidente. Nem sempre o outro foi visto como próximo, ou seja, como alguém que, pelo simples fato de ser humano, é aceito como "um de nós". Este fato cultural surgiu com o cristianismo, prosseguiu no Renascimento, ganhou realidade político-jurídica nas Revoluções Americana e Francesa e continuou presente nos projetos liberal-democrático e socialista dos séculos 19 e 20. Assim, na atualidade, habituamo-nos a ver em qualquer humano um semelhante e esquecemos que esta crença nem sempre foi intuitiva e imediata. Historicamente, o "amai-vos uns aos outros" não se impôs pelo exemplo de doçura, bondade e entrega de Jesus de Nazaré, de alguns de seus discípulos ou primeiros mártires. Aprendemos a ver no outro "um próximo" pela força das armas; pelas fogueiras da inquisição; pela perseguição aos inimigos políticos; pelo degredo, prisão, assassinato ou extermínio em massa dos infiéis, hereges, dissidentes e desviantes. Quando as revoluções democrático-burguesas aconteceram, grande parte das elites ocidentais estava preparada para tomar como natural e desejável a idéia de que todos fôssemos livres, iguais e fraternos. O respeito pela vida e a certeza de que o outro é um parceiro virtual na realização de nossas aspirações afetivas ou na construção de uma sociedade mais justa tornaram-se premissas práticas, inconscientes e pré-reflexivas, de nossas crenças morais. Mas, para que a recomendação do amor ao próximo fosse psicologicamente viável, a cultura ocidental fez da identidade do sujeito moderno espelho da contradição entre os ideais e a realidade. Buscando conciliar a industrialização, o capitalismo ou o imperialismo com a mínima moral democrática, as elites criaram um indivíduo cujo aprendizado da cidadania fundou-se em dois pilares centrais: a disciplina do trabalho e a disciplina da família. Na disciplina do trabalho, ele aprendia que seu esforço era nobre, pois produzia riquezas, e sua recompensa era a elevação do nível de vida material; na disciplina da família, aprendia a procriar corretamente, tendo em troca as promessas do sexo seguro e o direito de amar conforme a fantasia do amor-paixão romântico. Este amante bem-educado, bom trabalhador e bom pai de família foi à retranca privada que garantiu, por longo tempo, o semblante de harmonia do espaço público. Sua imagem era o emblema da civilização e dos bons costumes e, em seu nome, preconceitos, dominação e espoliação econômico-cultural de pessoas, classes ou povos submetidos foram interpretados e justificados como "ocorrências parasitárias"; "desvios de percurso"; "etapas infelizes, mas necessárias" rumo ao paraíso burguês na terra. A receita funcionou até que o progresso técnico e a sede de lucros mostraram que a "dignidade do trabalho" durou enquanto foi útil. Do mesmo modo, a moral familiar sucumbiu à moral do consumo, à saturação sexual da intimidade e às manifestações sociais dos discriminados, sob a forma de políticas das minorias ou políticas identitárias. De repente, as elites deram-se conta de que o universo patriarcal burguês desabara. Homens e mulheres já não se entendem sobre "o que é o feminino" e "o que é o masculino"; pais e filhos já não sabem mais "o que é paternidade" e "o que é filiação"; adultos e crianças perguntam-se "o que é ser jovem" e "o que é envelhecer" e todos, em guerra uns com os outros, pedem ao sexo e ao amor-romântico que lhes devolvam o apetite de viver que o insensato mundo lhes roubou. Raramente pensam que o desmoronamento da vida privada é a contraface do esvaziamento da vida pública e que o primeiro não tem conserto, enquanto o segundo persistir torto. Na esfera pública, os sinais do rebaixamento da imagem do "próximo" saltam à vista: o povo tornou-se "massa de consumidores"; política, defesa corporativa de interesses privados e à medida em que informatizamos indústrias, comércios, finanças e cabeças, desempregamos milhões de pessoas, sem a menor hesitação moral. Fomos adiante. Substituímos a prática da reflexão ética pelo treinamento nos cálculos econômicos; brindamos alegremente o "enterro" das utopias socialistas; reduzimos virtude e excelência pessoais a sucesso midiático; transformamos nossas universidades em máquinas de produção padronizada de diplomas e teses; multiplicamos nossos "pátios dos milagres", esgotos a céu aberto, analfabetos, delinquentes, e, por fim, aderimos à lei do mercado com a volúpia de quem aperta a corda do próprio pescoço, na pressa de encurtar o inelutável fim. (Jurandir Freire Costa). Questões de análise e entendimento (tarefa). 1) Como você interpreta a seguinte afirmação do autor: “desaprendemos a gostar de gente”. 2) Você concorda ou não com o autor quando ele diz “relacionar-se intimamente com alguém tornou-se uma tarefa cansativa”? Por quê? 3) Colete para debate exemplos em suas relações familiares e de amizade que revelem a perda de esperança no próximo. 4) Pesquise com seus amigos e familiares, soluções criativas para resolver o problema do individualismo e do narcisismo na sociedade atual. Apresente-as no debate. 5) É possível ser feliz hoje? Comente:

quarta-feira, 20 de junho de 2012

TAREFA PARA 6º ANO - RECRIARTE

A maravilha como início do filosofar. "A maravilha sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua o curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação é admirar-se; é reconhecer-se ignorante. Por isso, pode-se dizer que sob certo aspecto o filósofo é também amante do MITO: uma vez que o MITO se compõe de maravilhas." ARISTÓTELES, Metafísica. 1.1. Responda: a) Como, então o grande Aristóteles afirma que o “filósofo é também amante do mito”? b) Segundo Aristóteles, o problema mais importante para o homem refere-se à formação do universo. Por que? c) Qual a diferença entre saber-se ignorante e ser simplesmente ignorante?