segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A origem da Filosofia a partir dos mitos gregos.

Mircea Eliade, em sua obra “História das Crenças e das Idéias Religiosas” nos dá uma boa indicação do porque do desenvolvimento da filosofia na Antiga Grécia. Segundo Eliade, a religião grega sempre foi um politeísmo, no qual os deuses tinham comportamento parecido aos dos homens; os mesmos desejos, impulsos e emoções, com a diferença de que eram imortais. A religião grega, pelas suas características, nunca chegou a ser uma religião estritamente normativa e ligada a um povo específico (os gregos também dividiam muitos deuses com outros povos), como o foram a religião egípcia e a judaica.
Os gregos nunca tiveram um Livro dos Mortos ou um Decálogo. Todavia, os relatos dos bardos – entre eles os mais famosos Homero e Hesíodo – influenciaram a cultura grega da mesma forma. Não através da criação de leis, impedimentos e sanções, mas através de exemplos da vida dos deuses e dos heróis, a Paidéia, que foram incorporados à cultura grega – da poesia às tragédias, da escultura à filosofia. O historiador Werner Jaeger escreve: “O testemunho mais remoto da antiga cultura aristocrática helênica é Homero, se com esse nome designamos as duas epopéias: a Ilíada e a Odisséia. Para nós, é ao mesmo tempo a fonte histórica da vida daqueles dias e a expressão poética imutável de seus ideais” (Jaeger, 2003). Referindo-se a Hesíodo, Jaeger escreve: “O poema de Hesíodo permite-nos conhecer com clareza o tesouro espiritual que os camponeses beócios possuíam, independentemente de Homero. Na grande massa das sagas da Teogonia encontramos muitos temas antiqüíssimos, já conhecidos de Homero, mas também muitos outros que nele não apareceram.” (Jaeger, 2003). Este o arcabouço cultural da Antiga Grécia. As narrações dos dois poetas eram transmitidas de uma geração à outra, terminando por serem fixadas por escrito em torno do século VIII a.C.
Por volta do século VIII a.C. a população na península grega começa a crescer, forma-se as cidades-Estado e aumenta o comércio ultramarino. Estabelecem-se as primeiras colônias de mercadores gregos na Jônia – região hoje ocupada pela Turquia – e na Magna Grécia, a Eléia – região onde hoje se o sul da Itália.
O comércio a agricultura, a navegação, a construção de canais e de pontes, o contato com outros povos, fizeram com que se formasse nestas colônias gregas uma elite intelectual e econômica, que dominava os mais importantes conhecimentos da época: matemática, astronomia, geometria, línguas estrangeiras, escrita e religiões de outros povos.
No plano intelectual, toda esta vasta gama de conhecimentos fez com que jônios e eleatas passassem a encarar o universo de uma maneira diferente. No plano religioso, ainda conheciam as narrativas míticas de Homero e Hesíodo, as registravam e passavam para as gerações posteriores. Mas aos poucos, estas narrativas foram perdendo seu caráter mítico-religioso e mantiveram apenas sua função política de manutenção das tradições cívicas e das instituições das cidades-Estado.
Dentre esta elite altamente intelectualizada da Jônia e da Eléia, com acesso a todas as novas idéias que circulavam na região do Mediterrâneo à época (já que viviam em cidades cosmopolitas ligadas ao comércio) surge um novo grupo de homens: os filósofos. Estes foram os primeiros a não se utilizarem mais do mito para explicar o mundo e seu surgimento, representando provavelmente o primeiro movimento de laicização da cosmogonia, de tentativa de explicação da origem do universo através de meios racionais – evidentemente limitados pelos conhecimentos práticos (científicos?) da época. Estes pensadores, mais tarde conhecidos como pré-socráticos, apresentaram diversas hipóteses para apontar o elemento do qual todo o universo é constituído. As hipóteses variavam da água (Thales de Mileto na Jônia, considerado o primeiro filósofo), para o infinito (Anaximandro de Mileto, introdutor da filosofia na Grécia continental), até os números (Pitágoras de Samos, filósofo da escola eleata).
Todos os pensadores pré-socráticos tentam explicar o fundamento último do universo e, em termos atuais, poderiam também ser chamados de primeiros cientistas. Fato mais importante neste estudo é ressaltar a importância do surgimento da filosofia, como primeira tentativa de explicar o mundo à parte do posicionamento definitivo e por vezes impositivo das religiões. Aí, neste momento, tem origem a filosofia e todas as ciências que surgiram posteriormente.
Os pensadores pré-socráticos – e mesmo pensadores posteriores – não estão definitivamente livres do mito. Em sua linguagem e na construção de suas idéias ainda são utilizados termos oriundos do pensamento mítico. Em muitos relatos ainda há aparição de deuses (a deusa que aparece a Parmênides) ou referência a eles.

Diferença entre mito e filosofia
O mito é um relato que oferece uma explicação definitiva; o mito não precisa de justificativa. Ao contrário, é o mito que justifica uma sociedade, uma cultura, um costume, como vimos acima.
Da maneira como é elaborado, o mito não é para ser criticado ou discutido. Da mesma forma, ele não precisa ser apresentado através de argumentações – ele simplesmente é comunicado à comunidade por aqueles que se consideram os arautos das Musas ou dos Deuses. Vale aqui lembrar que quando uma religião se apropria do mito; este fica sujeito à crítica e precisa apresentar justificativas.
Como exemplo perfeito disto tome-se o mito da Criação e de Adão e Eva. O relato é mais antigo do que o judaísmo. Daí foi incorporado na religião e desde então precisa justificar­se, já que faz parte de um "plano" efetivo de Deus para com a humanidade, segundo o discurso religioso.
A filosofia é uma narrativa que não oferece uma explicação definitiva, já que a discussão é própria da filosofia. Existem sistemas filosóficos que se pretendiam definitivos; que pretendiam oferecer uma explicação definitiva da realidade. Talvez seja por isso que quase se transformaram em seitas.
Outro aspecto é que a filosofia sempre precisa se justificar. O próprio ato de filosofar já implica a apresentação de uma justificativa daquilo que vai ser dito. Por ser um processo baseado na experiência e/ou no raciocínio lógico, a filosofia sempre está sujeita a criticas.

sábado, 16 de outubro de 2010

DESABAFO DE UM PROFESSOR.

Diz uma história que numa cidade apareceu um circo, e que entre seus artistas havia um palhaço com o poder de divertir, sem medida, todas as pessoas da platéia e o riso era tão bom, tão profundo e natural que se tornou terapêutico. Todos os que padeciam de tristezas agudas ou crônicas eram indicados pelo médico do lugar para que assistissem ao tal artista que possuía o dom de eliminar angústias.

Um dia, porém, um morador desconhecido, tomado de profunda depressão, procurou o doutor. O médico então, sem relutar, indicou o circo como o lugar de cura de todos os males daquela natureza, de abrandamento de todas as dores da alma, de iluminação de todos os cantos escuros do nosso jeito perdido de ser.

O homem nada disse, levantou-se, caminhou em direção à porta, e quando já estava saindo, virou-se, olhou o médico nos olhos, e sentenciou:

- "Não posso procurar o circo... Aí está o meu problema: eu sou o palhaço".


Como professor, vejo que, às vezes, sou esse palhaço, alguém que trabalhou para construir os outros e não vê resultado muito claro daquilo que faz. Tenho a impressão que ensino no vazio (e sei que não estou só nesse sentimento) porque, depois de formados, meus ex-alunos parecem que se acostumam rapidamente com aquele mundo de iniqüidades que combatíamos juntos.

Parece que quando meus meninos(as) caem no mercado de trabalho, a única coisa que importa é quanto cada um vai lucrar, não importando quem vai pagar essa conta e nem se alguém vai ser lesado nesse processo. Aprenderam rindo, mas não querem passar o riso à frente, e nem se comovem com o choro alheio.

Digo isso, até em tom de desabafo, porque vejo que cada dia mais meus alunos se gabam de desonestidades. Os que passam os outros para trás são heróis e os que protestam são otários, idiotas ou excluídos, é uma total inversão dos valores.

Vejo que alguns professores partilham das mesmas idéias, e as defendem em sala de aula e na sala de professores, e se vangloriam disso. Essa idéia vem me assustando cada vez mais, desde que repreendi, numa conversa com alunos, o comportamento do cantor Zeca Pagodinho, no episódio da guerra das cervejas e quase todos disseram que o cantor estava certo, tontos foram os que confiaram nele.

"O importante professor é que o cara embolsou milhões", disse-me um; outro: "daqui a pouco ninguém lembra mais, no Brasil é assim, e ele vai continuar sendo o Zeca, só que um pouco mais rico". Todos se entreolharam e riram, só eu, bobo que sou, fiquei sem graça. O pior é quando a gente se dá conta que no Brasil é assim mesmo, o que vale é a Lei de Gérson: "o importante é levar vantagem em tudo".

A pergunta é: É possível, pela lógica, que todo mundo ganhe? Para alguém ganhar é óbvio que alguém tem de perder.

A lógica é:

. Guardar o troco a mais recebido no caixa do supermercado

. Enrolar a aula fingindo que a matéria está sendo dada

. Fingir que a apostila está aberta na matéria dada, mas usá-la como apoio enquanto se joga forca, batalha naval ou jogo da velha

. Dizer que leu o livro, quando ficou só no resumo ou na conversa com quem leu

. Cortar a fila do cinema ou da entrada do show

. Marcar só o gabarito na prova em branco, copiado do vizinho, alegando que fez as contas de cabeça

. Comprar na feira uma dúzia de quinze laranjas

. Brigar para baixar o preço mínimo das refeições nos restaurantes universitários, para sobrar mais dinheiro para a cerveja da tarde

. Bater num carro parado e sair rápido antes que alguém perceba

. Arrancar as páginas ou escrever nos livros das bibliotecas públicas

. Arrancar placas de trânsito e colocá-las de enfeite no quarto

. Fraudar propaganda política mostrando realizações que nunca foram feitas

. Trocar o voto por empregos, pares de sapato ou cestas básicas


É a lógica da perpetuação da burrice... E não adianta pensar que logo bateremos no fundo do poço, porque o poço não tem fundo.

Quando um país perde, todo mundo perde! Parafraseando Schopenhauer: "Não há nada tão desgraçado na vida da gente que ainda não possa ficar pior".

Se os desonestos brasileiros voassem, nós nunca veríamos o sol.

Felizmente há os descontentes, os lutadores, os sonhadores, os que querem manter o sol aceso, brilhando e no alto. No entanto, de nada adianta o conhecimento sem o caráter. A luz é, e sempre foi, a metáfora da inteligência.

Que nas escolas seja tão importante ensinar Literatura, Matemática ou História quanto decência, senso de coletividade, coleguismo e respeito por si e pelos outros.

Acho que o mundo (e, sobretudo, o Brasil) precisa mais de gente honesta do que de literatos, historiadores ou matemáticos. Ou o Brasil encontra e defende esses valores e abomina Zecas, Gérsons, Dirceus, Dudas e todos os marketeiros que chamam desonestidades flagrantes de espertezas técnicas, ou o Brasil passa de país do futuro para país do só furo.

De um Presidente da República espera-se mais do que choro e condecoração a garis honestos, espera-se honestidade em forma de trabalho e transparência.

De professores, espera-se mais que discurso de bons modos, espera-se que mereçam o salário que ganham (pouco ou muito) agindo como quem é honesto.

Quem plantar joio, jamais colherá trigo. A honestidade não precisa de propaganda, nem de homenagens, precisa de exemplos.

Quando reflexões assim são feitas, cada um de nós se sente o palhaço perdido no palco das ilusões. A gente se sente vendendo o que não pode viver, não porque não mereça, mas porque não há ambiente para isso.

Quando seria de se esperar uma vaia coletiva pelo tombo, pelo golpe dado na decência, na coerência, na credibilidade, no senso de respeito, vemos a população em coro delirante gritando "bis" e, como todos sabemos, um bis não se despreza.

Então, uma pirueta, duas piruetas, bravo! bravo! E vamos todos rindo e afinando o coro do "se eu livrar a minha cara o resto que se dane".

Enquanto isso, o Brasil de irmã Dulce, de Manuel Bandeira, do Betinho, de Clarice Lispector, de Chiquinha Gonzaga e de muitos outros heróis anônimos que diminuíram a dor desse país com a sua obra, levanta-se, caminha em silêncio até a porta, vira-se e diz:
"Esse é o problema... Eu sou o palhaço".


. Este texto é atribuído ao Profº Naylor Marques

domingo, 29 de agosto de 2010

Proposta Para Trabalho Bimestral - 3º ano.

Pesquise dois tipos diferentes de cultura, do passado e do presente e procure mostrar como elas resolvem seus problemas de: transporte, alimentação básica, organização sócio-política e defesa da comunidade.
Modalidade: individual
Entrega: 10/09/2010;

Instiruição Social Família - texto Complementar (2º ano - Recriarte)

Família Histórico:
• 1º Cenário – Antiguidade: A CONFIGURAÇÃO DE FAMÍLIA NO SEU SURGIMENTO ESTÁ ATRELADA AO CASAMENTO MONOGÂMICO, HETEROSSEXUAL, AO MODELO PATRIARCAL E A PROPRIEDADE PRIVADA;
• 2º Cenário – Idade Média: A CONFIGURAÇÃO DE FAMÍLIA NO SEU SURGIMENTO ESTÁ ATRELADA AO CASAMENTO MONOGÂMICO, HETEROSSEXUAL, AO MODELO PATRIARCAL E A PROPRIEDADE PRIVADA; “MAS DE FATO ATÉ O FIM DO SÉCULO XVII, NINGUÉM FICAVA SOZINHO. A DENSIDADE SOCIAL PROIBIA O ISOLAMENTO E AQUELES QUE CONSEGUIAM SE FECHAR NUM QUARTO POR ALGUM TEMPO, ERAM VISTOS COMO FIGURAS EXCEPCIONAIS: RELAÇÕES ENTRE PARES, RELAÇÕES ENTRE PESSOAS DA MESMA CONDIÇÃO, MAS DEPENDENTES UMAS DAS OUTRAS, RELAÇÕES ENTRE SENHORES E CRIADOS - ESTAS RELAÇÕES DE TODAS AS HORAS E DE TODOS OS DIAS JAMAIS DEIXAVAM UM HOMEM SOZINHO. ESSA SOCIABILIDADE DURANTE MUITO TEMPO SE HAVIA OPOSTO À FORMAÇÃO DO SENTIMENTO FAMILIAR, POIS NÃO HAVIA INTIMIDADE.”
(ARIÉ, P. HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA, P.264)
• 3º Cenário – Idade Média: NO FIM DO SÉCULO XVI E DURANTE O SÉCULO XVII VAI SURGIR UM NOVO SENTIMENTO DE FAMÍLIA QUE VEM ACOMPANHADO DE MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS EM RELAÇÃO ÁS CRIANÇAS. “A CRIANÇA TORNOU-SE UM ELEMENTO INDISPENSÁVEL DA VIDA COTIDIANA, E OS ADULTOS PASSARAM A SE PREOCUPAR COM SUA EDUCAÇÃO, CARREIRA E FUTURO”
(ARIÉ, P. HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA, P.270)
• 4º Cenário – Modernidade: NO SÉCULO XVIII “A FAMÍLIA MODERNA, AO CONTRÁRIO, SEPARA-SE DO MUNDO E OPÕE À SOCIEDADE O GRUPO SOLITÁRIO DOS PAIS E FILHOS. TODA ENERGIA DO GRUPO É CONSUMIDA NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS, CADA UMA EM PARTICULAR, E SEM NENHUMA AMBIÇÃO COLETIVA: AS CRIANÇAS MAIS DO QUE A FAMÍLIA... ESSA EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA MEDIEVAL... DURANTE MUITO TEMPO SE LIMITOU AOS NOBRES... AINDA NO INICIO DO SÉCULO XIX, UMA GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO, A MAIS POBRE E MAIS NUMEROSA, VIVIA COMO AS FAMILIAS MEDIEVAIS, COM AS CRIANÇAS AFASTADAS DOS PAIS.”
(ARIÉ, P. HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA, P.271)
• 5º Cenário – Pós-Guerra: A Europa como civilização mais avançada, promove/sofre guerras que vão alterar as formas de relações pessoais e sociais. Impondo um sentimento de urgência em viver todas as coisas já. Neste contexto a família também será alterada, a criança será entendida como esperança, há uma extensão da família pelo espírito da solidariedade, espírito de comunidade e de cuidado mútuo.
• Família Hoje:
DIVERSIDADE ESTRUTURAL MAIS COMUM: FAMÍLIAS TRADICIONAIS: FAMÍLIAS MONOPARENTAIS; FAMÍLIAS RECASADAS; FAMÍLIAS AMPLIADAS; FAMÍLIAS NÃO CONVENCIONAIS;
• NÃO EXISTE UMA FAMÍLIA IDEAL OU UM MODELO PRÉ-DETERMINADO DE FAMÍLIA, EXISTEM FAMÍLIAS REAIS. INDEPENDENTE DE SUA CONFIGURAÇÃO, A FAMÍLIA CONTINUA SENDO A INSTITUIÇÃO SOCIAL RESPONSÁVEL PELOS CUIDADOS, PROTEÇÃO, AFETO E EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS PEQUENAS, OU SEJA, É O PRIMEIRO E IMPORTANTE CANAL DE INICIAÇÃO DOS AFETOS, DA SOCIALIZAÇÃO, DAS RELAÇÕES DE APRENDIZAGEM.
• AS CRIANÇAS DE FAMÍLIA RICA COSTUMAM TER UMA INFÂNCIA DE LONGA DURAÇÃO, RECEBENDO UMA PROFUSÃO DE BENS QUE NÃO LHES PERMITEM ENTENDER A DIFERENÇA DO TER E NÃO TER, NÃO APRENDE A REPARTIR, E NÃO SABEM O QUE É REALMENTE DESEJAR CONFUNDINDO DESEJAR COM CONSUMIR POR CONSUMIR.
• ACESSO AO CONHECIMENTO SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM, SOBRE SAÚDE, SOBRE DIREITOS ENTRE OUTROS SABERES, PODEM SER UM IMPORTANTE CONTRAPONTO ENTRE SABERES TÉCNICOS, SABERES COTIDIANOS, VALORES E AS REALIDADES DAS FAMÍLIAS. QUALIFICANDO E AMPLIANDO AS OPORTUNIDADES DE DIGNIDADE PARA FAMÍLIA BRASILEIRA.
• FAMILIA, NO LATIM IA É PLURAL. FAMULUS (SINGULAR) SIGNIFICA ESCRAVO, LOGO: FAMÍLIA É CONJUNTO DE ESCRAVOS
• FAMÍLIA: NÚCLEO PARENTAL, 1. FORMADO POR PAI, MÃE E FILHOS; 2. PESSOA DO MESMO SANGUE, PARENTELA; 3. LINHAGEM, ESTIRPE; 4. GRUPO DE GÊNEROS DE ANIMAIS OU PLANTAS COM CARACTERES COMUNS; 5. CONJUNTO DE TIPOS COM AS MESMAS CARACTERÍSTICAS BÁSICAS.
• A FAMÍLIA, BASE DA SOCIEDADE TEM ESPECIAL PROTEÇÃO DO ESTADO. (C.F capítulo VII, Art. 226. 1988)
• A RELAÇÃO MATRIMONIAL É O FULCRO DA ESTRUTURA FAMILIAR. A SUA PADRONIZAÇÃO EM TERMOS DE SOCIEDADE, QUE A INCLUI, DEPENDE DE UMA VARIEDADE DE FATORES AMBIENTAIS, ADMITINDO A COEXISTÊNCIA DE FORMAS PECULIARES A SETORES DISTINTOS DA SOCIEDADE. (LENHARD, R. IN SOCIOLOGIA EDUCACIONAL, VIII-P. 50)
• FAMÍLIA DE ORIGEM É AQUELA DE NOSSOS PAIS; FAMÍLIA DE REPRODUÇÃO É AQUELA FORMADA PELO INDIVÍDUO COM OUTRO ADULTO E OS FILHOS DECORRENTES.
(PRADO, D. IN O QUE É FAMÍLIA, P.13)
• FAMÍLIA UMA NOVA ÉTICA; UM NOVO COMPROMISSO ; IDENTIDADE/VÍNCULO E DIREITO A DIFERENCIAÇÃO.
• Funções da Família: REGULAÇÃO SEXUAL ; REPRODUÇÃO; SOCIALIZAÇÃO; AFETO; PROTEÇÃO ; EDUCAÇÃO...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Modelo de Entrevista sobre o Conhecimento de Fé.

• Nome (opcional)

• Profissão:

• idade:

• Qual a sua religião ou doutrina? Herança religiosa de seus pais ou discernimento pessoal?

• Você acredita que as crianças devem se educadas na fé? Por quê?

• O que pensa sobre o acúmulo de riqueza materiais?

• Você se considera uma pessoa ecumênica? Respeita a diversidade religiosa?

• Que valores precisam ser resgatados para vivermos bem em sociedade? Comente:

Tarefa para o 6º ano do Centro Educacional Recriarte.

Os manuscritos do Saara.
No deserto da Mauritânia, famílias preservam livros que transmitem o saber acumulado durante séculos.
Quanto tempo pode durar uma palavra desenhada no chão do Saara? Nem mesmo 1 segundo, se ela for escrita durante uma das freqüentes tempestades de areia que varrem a região. Talvez 1 minuto se os grãos secos e airados do deserto, quase líquidos e tão movediços, escorrerem por conta própria. E quanto tempo pode durar uma biblioteca levada para o coração do Saara? Meio milênio, pelo menos, se estiver sob os cuidados dos berberes da Mauritânia. Esse povo de origem nômade, que há séculos conduz caravanas de camelos pelo Saara, é famoso por seu apego ao conhecimento e pela refinada erudição de seus escritores. Não por acaso a Mauritânia ficou conhecida na História como o país dos milhões de poetas (...)
Durante a Idade Média, quando os países europeus mergulhavam no analfabetismo, os nômades do deserto misturaram sua rústica vida de pastores de camelos, vivida à luz do dia, com a leitura, á luz das lamparinas, de tratados de astronomia, além da composição de poemas épicos e de ensaios filosóficos que acabaram virando clássicos do mundo árabe.
No Saara mauritano de hoje, apesar das inevitáveis transformações trazidas pela modernidade, muitos filhos de pastores ainda são alfabetizados nas mahadras, ou “universidades do deserto”, criadas há séculos. Elas são edificações de adobe (feitas de banko, um tipo de barro extraído das margens dos oásis), erguidas numa arquitetura despojada. As lições vêm das bibliotecas do deserto, coleções preciosas de manuscritos acumulados ao longo de mais de 550 anos e transmitidos de pai para filho há dezenas de gerações. Ali os estudantes aprendem gramática árabe e os fundamentos do islamismo, a religião da Mauritânia, lendo manuscritos de próprio punho por doutores do mundo árabe, a maior parte deles ex-alunos que se transformaram em mestres dessas mesmas escolas. (...)

Farelos do tempo.

Nessa pequena cidade (Chinguetti) 130 quilômetros deserto adentro, uma dezena de bibliotecas guardam livros únicos no mundo. A coleção de livros da família Habott, por exemplo, conserva mais de 1550 obras raras, entre as quais o primeiro Alcorão escrito em papel, datado de 1059, de valor inestimável. Muitos títulos são anteriores à chegada do papel e por isso estão em pergaminhos feitos de pele de gazela. Embora tendo sobrevivido por séculos, muitas obras dessas bibliotecas já trazem sinais da deterioração pelo tempo, pelo ataque dos insetos e, principalmente, pelo constante manuseio dos alunos. Alguns volumes se esfarelam ao simples toque e estão ameaçados de desaparecer. Mesmo assim, as famílias se recusam a removê-los para museus e bibliotecas especialmente condicionados.
“Esses livros vieram das profundezas do tempo e é nossa carta de identidade cultural. Nós daríamos a vida para protegê-los, mas jamais consentiríamos na sua remoção” diz Ahmed Ould Wenane, jovem curador de uma biblioteca familiar. (...)
Hoje, os bibliotecários dedicam parte de seu tempo tentando impedir que se repita a tragédia que consumiu a vizinha Ouadane, 100 quilômetros mais ao note e que chegou a rivalizar com Chinguetti em esplendor e fama. Ouadane rendeu-se quase que inteiramente ao avanço da areia, transformando-se numa cidade fantasma. Uns poucos moradores resistem entre ruínas, palácios e mesquitas. Em Chinguetti, contudo, o orgulho pelo passado ainda mantém acesa a chama da conservação. Um dos maiores paladinos dessa batalha contra o esquecimento é Mohamed Mahmoud, jovem bibliotecário dos Hamoni. Com os recursos destinados pela UNESCO, ele vem catalogando os 250 manuscritos sob sua guarda e melhorando as condições de preservação. Com os donativos, conseguiu instalar armários de metal nas bibliotecas e proteger os volumes mais delicados em caixas de papelão. Melhorias simples, sem dúvida, mas que têm ajudado a salvar tesouros que por séculos ficaram amontoados no chão de celas escuras, separados do deserto apenas por uma pesada porta de madeira.

OS CAMINHOS DA TERRA. São Paulo: Abril. Abr. 1999. p. 54-58

Para responder no caderno.

1) A partir do texto, qual a grande herança deixada de pai para filho, que valor tem essa herança?

2) Qual a realidade vivida pela europa na idade média em comparação aos nômades do deserto?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

De quantas coisas não preciso para ser feliz? Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super-homens e super mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"

domingo, 23 de maio de 2010

Sócrates de Atenas. "O homem que sabia perguntar".

“Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que sabia o que não sei” (Sócrates).

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado uma marco divisório da historia da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o sucederam são chamados de pós-socráticos. O próprio Sócrates, porém não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários.
Conta-se que Sócrates era filho de um escultor e uma parteira. Uma dupla herança que, simbolicamente, o levou a esculpir uma representação autentica do homem, fazendo-o dar á luz suas próprias ideias. O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se, exteriormente, ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual á consciência pratica ou moral. O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais de filosofia socrática. Conhece-te a ti mesmo, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: ironia e maiêutica.

Na ironia, confunde o conhecimento sensível e dogmático. Sócrates costumava iniciar uma conversação fazendo perguntas e obtendo dessa forma opiniões do interlocutor, opiniões que ele aparentemente aceitava. Depois, por meio de um interrogatório hábil, desenvolvia as opiniões originais do tal interlocutor, mostrando a tolice e os absurdos das suas opiniões superficiais, através das consequências contraditórias ou absurdas destas mesmas opiniões e a confessar o seu erro ou a sua incapacidade para alcançar uma conclusão satisfatória. Esta primeira parte do método de Sócrates destinada a levar o indivíduo à convicção do erro é a ironia.

Na maiêutica, dá à luz um novo conhecimento, um aprofundamento que não chega ao conhecimento absoluto. Ele comparava frequentemente este método com a profissão da mãe: era possível trazer a verdade à luz. Assim, ele voltava-se para os outros, quer fossem adolescentes, militares ou sofistas consagrados como Protágoras e Górgias, e interrogava-os a respeito de assuntos que eles julgavam saber. O seu sentido de humor confundia os seus interlocutores, que acabavam por confessar a sua ignorância, da qual Sócrates extraía sabedoria.
Por exemplo, querendo apreender o conceito de coragem, dirigia-se ao um general, e perguntava-lhe: - você que é general, poderia me dizer o que é a coragem? O general respondia-lhe: - coragem é atacar o inimigo, nunca recuar. Mas Sócrates contradizia: - às vezes temos que recuar para melhor contra atacar. E a partir daí continuava o debate ampliando o conceito.
O exemplo clássico da aplicação da maiêutica é um diálogo platônico (intitulado Mênon), no qual Sócrates leva um escravo ignorante a descobrir e formular vários teoremas de geometria.

Um corruptor da juventude?

Sócrates não dava importância à posição sócio econômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores psicológicas, de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo do autoconhecimento. Para a Democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas, sem fazer distinções de classes ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome).
Diante de seus juízes, Sócrates assumiu uma postura viril, altaneira, imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência. Se alguém lhe perguntasse: “ Não te envergonhas, Sócrates, de ter dedicado a vida a uma atividade pela qual te condenam a morte?”, ele responderia: Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pensando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes.
Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida: construindo uma personalidade corajosa e guiando sua conduta pelo seu critério de justiça. Viveu conforme sua própria consciência. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais.